PRIMEIRA CARTA PRODUZIDA PELOS INTEGRANTES, ATÉ ENTÃO COMITÊ PROVISÓRIO PELA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL NO BRASIL, EM SÃO PAULO NO DIA 15 DE MARÇO DE 2003.

Reunidos em São Paulo no dia 15 de março de 2003, os profissionais e instituições que subscrevem esta Carta convocam todos os interessados na preservação do patrimônio industrial no Brasil a se unirem em torno do Comitê Provisório pela Preservação do Patrimônio Industrial no Brasil, fundado nessa data.

A ideia de criação desse Comitê surgiu em discussões informais de profissionais das áreas de História, Sociologia, Arquitetura e outras, sobre fatos concretos de destruição/deterioração que vem ocorrendo no país, dada a velocidade das transformações que vêm atingindo o nosso parque industrial. São inúmeros os riscos que ameaçam a preservação de um patrimônio que diz respeito a grandes contingentes da população brasileira. Em todas as regiões do Brasil existem exemplos de patrimônio industrial, de grande importância histórica, econômica, tecnológica e social, que precisam ser preservados.

A aceleração das mudanças tecnológicas, as transferências de fábricas para outros Estados, os processos de fusão e incorporação de empresas tradicionais por grupos estrangeiros, bem como o processo de desindustrialização de algumas regiões do país, tem provocado o fechamento de fábricas e manufaturas, a deterioração das edificações e equipamentos e até mesmo a simples demolição de muitas delas.

Muitas dessas fábricas possuem importante valor arquitetônico, representando diversas fases do desenvolvimento industrial brasileiro, e também profundas relações históricas e culturais com as comunidades que as circundam. No entanto, até mesmo os responsáveis pela preservação do patrimônio histórico e cultural do país, em seus três níveis de atuação – municipal, estadual e federal, frequentemente subestimam o patrimônio industrial, considerando-o pouco relevante no conjunto do patrimônio a ser preservado. Além disso, os próprios proprietários encaram esses antigos espaços fabris apenas como fonte de recursos, abrindo espaço para a voracidade da especulação imobiliária.

Por outro lado, a preservação de fábricas e de todos os elementos que integram a atividade fabril já é, há algumas décadas, uma forte tendência urbanística e turística em várias partes do mundo. Além do aspecto histórico de tal preservação, sem dúvida fundamental, o impacto educacional e cultural de tais iniciativas, tem se mostrado bastante promissor em várias destas experiências, com desdobramentos positivos nos campos econômico, social e ambiental. A preservação de espaços industriais, embora ainda em pequena escala, já é também uma realidade no Brasil. Basta ver os exemplos do SESC Pompéia e Belenzinho na cidade de São Paulo, a Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, o Espaço Mascarenhas, em Juiz de Fora/MG e a recente iniciativa do município de Guarulhos/SP em transformar a antiga fábrica têxtil Adamastor num Centro Educacional.

Já existe uma organização internacional que luta pela preservação do patrimônio industrial, o The International Comittee for the Conservation of the Industrial Heritage – TICCIH. Essa organização possui instituições afiliadas em vários países, inclusive na América Latina. No Brasil, porém, há um vácuo de organizações nesta área. Aproveitando a mobilização em torno da preservação de algumas antigas indústrias como Matarazzo Petybom e Nitro Química, em São Paulo, e da Fábrica de Marzagão, em Sabará/MG, considerando ainda o clima político favorável, atualmente existente no país, achamos que é possível fundar um Comitê pela Preservação do Patrimônio Industrial também aqui no Brasil. Queremos que esse Comitê sirva como instrumento de pressão e eventual apoio ao poder público e às comunidades, visando iniciativas de preservação industrial. Além disso, deve servir também como órgão de estudos e pesquisa, divulgação da causa preservacionista, articulando comunidades, organizações da sociedade civil, entidades empresariais e sindicais, tanto na preservação desse patrimônio, quanto na busca de alternativas para a sua revitalização.

Assim, convidamos todos aqueles interessados no debate sobre patrimônio industrial a somar esforços conosco. Para tanto, abrimos um grupo de discussão na Internet. Neste grupo pretendemos debater os mecanismos para a estruturação de um Comitê Permanente no Brasil, bem como iniciar uma troca mais sistemática de experiências. Assim, solicitamos a todos que se inscreverem no grupo, que enviem uma mensagem de apresentação, indicando, se possível, a filiação institucional e que tipo de experiência ou interesse possui em relação ao patrimônio industrial. Desejamos convocar para breve uma nova reunião que, após a divulgação e debate via (Lista de Discussão) correio eletrônico, encaminharia a fundação do Comitê Brasileiro pela Preservação do Patrimônio Industrial.  

Membros do Comitê Provisório pela Preservação do Patrimônio Industrial no Brasil.

PAULO FONTES  Instituição: Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Nitro Química – Memória Operária Paulistana

MOEMA MOREIRA GONTIJO  Instituição: Centro de Memória do Sistema FIEMG – Fed. das Indústrias do Estado de Minas Gerais  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Memória da Indústria Mineira

TAÍS VIUDES DE FREITAS  Instituição: USP (Estudante de Ciências Sociais)  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial:

RENATA FALEIROS CAMARGO MORENO  Instituição: USP (Estudante Ciências Sociais)  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial:

MARINA GURGEL NEVES  Instituição: USP (estudante de Ciências Sociais)  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial:

APARECIDO PERPÉTUO MARCONDES  Instituição: Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Ferrovia no Interior Paulista

HENRIQUE TELLES VICHNEWSKI Instituição: UNICAMP  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Indústrias Matarazzo no Interior Paulista

LEONARDO G. MELLO E SILVA Instituição: Depto. Sociologia USP  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Fábrica Petibon – Matarazzo Vila Romana

TELMA BESSA SALES  Instituição: Pastoral Operária  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Fábrica Adamastor (Guarulhos)

MICHAEL L. MOGENSEN  Instituição: Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Memória Industrial Paulista

SILVANA B. RUBINO Instituição: PUC-Campinas  Pesquisa na área de Patrimônio Industrial: Ensino, pesquisa, preservação da Vila Industrial de Campinas

RODRIGO SALVADOR LOCHI Instituição: USP (estudante de Ciências Sociais) Pesquisa na área de Patrimônio Industrial